STF avalia intermediar reconciliação entre Lula e Congresso após impasse do IOF

Ministros veem base jurídica sólida para o governo, mas temem desgaste político com judicialização

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) passaram a discutir internamente a possibilidade de intermediar um acordo entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Congresso Nacional após a derrubada do decreto presidencial que elevava as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

O relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, deve liderar a costura da possível conciliação. As informações são da Folha de S. Paulo.


A Advocacia-Geral da União (AGU) ajuizou nesta terça-feira (1º) uma ação declaratória de constitucionalidade (ADC) no Supremo para garantir a validade do decreto presidencial, e pediu liminar para suspender os efeitos do decreto legislativo que anulou o aumento do tributo.


A iniciativa foi solicitada diretamente por Lula, após avaliação técnica do ministro Jorge Messias e aprovação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Base jurídica favorável

A avaliação interna no STF é de que o Executivo tem amparo constitucional para editar o decreto, com base no entendimento de que o aumento do IOF está dentro das competências regulamentares do presidente da República.

Há precedentes no tribunal — de 2019, 2020 e 2023 — que rejeitaram tentativas de sustar decretos estaduais por assembleias legislativas, reforçando a tese de que o Legislativo só pode barrar atos do Executivo em casos de clara inconstitucionalidade.

Apesar disso, ministros demonstram desconforto com a transferência da crise ao Supremo, e enxergam no episódio falta de articulação política do governo com o Congresso. O problema, contudo, não está somente na base jurídica do pedido, mas sim calcado em uma questão política. Além disso, a judicialização apenas reforça a imagem do tribunal como mediador constante de conflitos entre os Poderes.

Fórum pode destravar diálogo

Parte da discussão poderá se deslocar para Lisboa, onde membros do Executivo e do Judiciário participam, a partir desta quarta-feira (2), do 13º Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo ministro Gilmar Mendes. O evento anual contará com a presença do próprio Alexandre de Moraes, relator do caso, e do autor da ação, Jorge Messias. Os ministros Flávio Dino e Gilmar Mendes também participam.

A expectativa é que o evento sirva como um espaço informal para destravar a crise e reabrir canais de diálogo entre os Poderes. Aliados do governo avaliam que a concessão de liminar pelo STF pode servir como “medicamento para baixar a febre”, criando uma janela para negociação com o Congresso antes do julgamento definitivo.

Decisão liminar pode redefinir cenário

Se o STF acolher o pedido de liminar do governo, o decreto presidencial volta a vigorar até o julgamento final da ação. A medida prevê alíquotas maiores para operações como compras internacionais com cartão de crédito e remessas ao exterior, com estimativa de arrecadação de até R$ 10 bilhões em 2025.

A concessão da liminar pode ser o gatilho para a retomada de negociações políticas. No entanto, o presidente Lula ainda não autorizou publicamente qualquer recuo ou sinal de mudança de estratégia. A costura de uma saída pacífica pode, agora, depender mais do ambiente construído fora do país do que em Brasília.



Outros conteúdos

Israel bombardeia TV estatal iraniana após ordenar evacuação em Teerã

Netanyahu diz controlar os céus da capital e promete seguir com ofensiva; Irã envia sinais para evitar escalada

Confiança do consumidor recua para menor nível desde 2023, diz FGV

Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV teve no mês queda de 5,1 pontos